"Eu podia estar matando"...

Um mendigo passou por mim e disse: “Precisas de um companheiro?”. Momentaneamente, sem pensar muito na resposta, disse: “Muito”. Percebi naquele instante que havia me tornado uma das suas.

Mas ele não era um qualquer, não lhe faltava dinheiro, roupas, comida e nem onde morar. Ele tinha quase todas as coisas, menos o mais importante...

Fiquei olhando os seus traços e reações, o jeito carinhoso com que tratava as pessoas, mesmo quando elas lhe faziam mal. Surpreendia-me o fato de que ele se sentisse tão sozinho quando estava cercado de amigos.

Um dia, ao observar-lhe a alma, senti meus olhos ofuscarem e quase não consegui mantê-los abertos. Comecei a ver que esse mendigo tinha feições conhecidas, só não estava identificando de onde... A pele era branca, com sardas que a sujeira e a carapaça não deixavam ver direito, os olhos eram amenos e castanhos, exalava perfumes que me eram de agrado.

Quando ele virou, tamanho susto, quase caí de costas: vi meu rosto em sua face. Aquele sujeito conhecia intrinsecamente tudo o que passava dentro do meu coração e sabia das migalhas de amor que tentavam me contentar.