sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Para onde vão os nossos velhinhos?

Em Jundiaí (SP), na parte alta do bairro Anhangabaú, podem ser vistas pequenas casas amarelas, todas iguais, mas repletas de histórias de vida muito diferentes. Essa é a ‘Cidade Vicentina Frederico Ozanam’.

Inaugurada em 1941, a entidade foi iniciativa da ‘Sociedade São Vicente de Paulo’, e faz homenagem a Antônio Frederico Ozanam, vicentino que dedicou sua vida a trabalhos filantrópicos.

Hoje, a ‘Cidade Vicentina’ atende a 95 idosos e lhes fornece atendimento médico, fisioterapêutico e de enfermagem. Os idosos têm ainda 5 refeições diárias e muito entretenimento (aulas de pintura, alfabetização, festas e passeios).

Segundo Mauridnéia Seixas, assistente social da instituição desde 1985, a filantropia é muito importante, e, nesses anos todos de trabalho, Néia, como é conhecida, diz que ama o que faz e que está aprendendo a envelhecer com os “vôs” (apelido carinhoso dado por ela). Comenta também que ao conversar sobre as novidades de beleza, como o silicone, eles respondem: “Ah Dona Néia, a melhor coisa é envelhecer. A cabeça e o coração sendo bons, o resto não importa.”

Entre uma tacada e outra do jogo de sinuca com os amigos, Seu Alcídio Cuba, de 67 anos, que vive há quatro na ‘Cidade Vicentina’, diz estar no lugar por opção e que se sente muito feliz pelos cuidados e carinho que recebe. Ele, que já trabalhou até como cambista do jogo do bicho, conta que agora cuida de uma horta e pinta muitos quadros.

Entretanto, essa não é a realidade de todos os brasileiros com mais de 60 anos. O preconceito e a exclusão social ainda são muito grandes. Situação essa de Armando Menigheli, que, aos 79 anos, recebe uma aposentadoria de R$ 260, com os quais deveria, segundo a lei, conseguir se sustentar. Mas Armando, que estudou apenas até a 3ª série do Ensino Fundamental e não tem nenhum familiar para lhe ajudar, paga R$ 110 numa pensão, que lhe garante somente o dormitório. Suas refeições e higiene são feitas na ‘Casa Santa Marta’ (Jundiaí), instituição que sobrevive apenas de donativos. Como a entidade não fornece o jantar, ele fica sem comer durante as noites. Ao ser perguntado se tinha conhecimento de seus direitos, Seu Armando respondeu que não, mas que ‘seria bom, né? Eu podia viver melhor...’.

De acordo com o artigo 3º do Estatuto do Idoso (lei no 10.741, de 1º de outubro de 2003), “É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”.

Quem sabe um dia todos esses ‘Armandos’ possam usufruir seus direitos, principalmente porque estima-se que em 2020 o número de idosos no Brasil seja de aproximadamente 30 milhões, ou seja, 13% da população brasileira (IBGE).

Por enquanto o voluntariado tem ajudado, mas não é o suficiente para todos.

Reportagem feita em 2004 por Daniela Espinelli***

3 comentários:

Cristina Casagrande disse...

Bonitinha, neste Natal eu e o Peri fomos a um asilo! Foi uma experiência muito boa! Queremos voltar lá! Vamos conosco?

Beijossssss

Zé, de sobrenome Forner disse...

Dá uma tristeza...

Hilário Pereira disse...

Eu posso falar qualquer coisa aqui do tipo: "A culpa é do sistema!" ou "João Gordo é traidor do movimento!". Eu sou sincero e digo que não ajudo entidades, mas faço minha parte, me esforço, para com as pessoas ao meu redor, do meu convívio. Não é o suficiente talvez para alguns, mas é importante pra mim, seria bom se todo tivéssemos pessoas que se importassem conosco, assim não teriam tantos "Armandos" de certa forma, solitários.

Besitos!